sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Conservadorismo, o que é isso???

Venho lendo/ouvindo/assistindo uma enorme quantidade de bobagens ditas aos 4 quantos pelos novos “analistas políticos” de Redes Sociais. E uma dessas bobagens diz respeito ao Conservadorismo ou ao Conservador (Até a questão semântica é ignorada), em função disso, resolvi produzi um texto sobre o assunto. Quem sabe alguém leia e comece a procurar saber sobre os fatos antes de opinar por opinar.

Antes de mais nada, o Conservadorismo é um pensamento político que defende, dentre outras coisas, a manutenção das instituições sociais tradicionais (Tais como a família, a comunidade local e a religião) além dos usos, costumes, tradições e convenções. O conservadorismo enfatiza a continuidade e a estabilidade das instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos de caráter “revolucionários”. Mas é importante entender que o conservadorismo não é um conjunto de ideias políticas definidas e estáticas, pois os valores conservadores variam enormemente de acordo com os lugares e com o tempo.
Por exemplo, conservadores chineses, indianos, russos, alemães, franceses ou ingleses podem defender conjuntos de ideias e valores bastante diferentes, mas que estão sempre de acordo as tradições de suas respectivas sociedades.

No início do texto eu falei sobre a importância de diferenciar “Conservadorismo”, pois acredito ser importante não confundir o pensamento político conservador com a atitude em relação às mudanças políticas chamada de conservadora (junto com outras como reacionários, progressistas e radicais). O conservador neste último sentido busca manter a situação política do jeito que está, independentemente do conjunto de ideias a que se aplica. É um termo normalmente aplicável a qualquer pensamento político que esteja no poder. Um socialista ou um liberal que esteja governando pode ser conservador nesse sentido, pois deseja manter-se no poder e almeja a continuação de suas políticas.

Um revolucionário torna-se um conservador depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que quero abordar aqui é aquele que começa a aparecer no Brasil e tem algumas semelhanças com o conservadorismo ocidental existente na América Latina, na América do Norte e na Europa, pois todos eles têm como base a doutrina cristã e a adoção, em maior ou menor grau, das ideias políticas liberais. Mas é importante entender que mesmo o conservadorismo ocidental possui várias vertentes e é difícil identificar um posicionamento político específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões divergentes entre si sobre algumas questões.
Bom, é possível determinar algumas características importantes do pensamento conservador ocidental. O Conservadorismo tem como seus principais valores a liberdade e a ordem (Não são os únicos, evidentemente, mas considero esses dois fundamentais, para se entender um pouco do que quero abordar), principalmente quando falamos de liberdade política e econômica e a ordem social e moral. O conservador acredita que há uma ordem moral duradoura e transcendente, que no caso do conservadorismo ocidental é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua base. O conservadorismo valoriza a diversidade típica do individualismo e rejeita a igualdade como um objetivo da política, preferindo trabalhar com a liberdade e com a equidade (Não se trata igual, os desiguais).
O conservador, assim como o libertário, entende que a igualdade político-jurídica é suficiente para garantir a justiça necessária entre os indivíduos. Qualquer desigualdade material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças naturais entre os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões. Lembrando sempre que cada indivíduo deve ser responsável por suas ações e escolhas, não cabendo à mais ninguém (Principalmente ao Estado), arcar com as consequências dessas ações/escolhas.
No campo político, o Conservador procura preservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo e são fruto dos usos, costumes e tradições. O conservadorismo entende que as mudanças e o progresso são necessários para manter uma sociedade saudável, mas essas mudanças devem ser naturais e graduais. Assim, a política do conservador é a política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as instituições estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos de sociedade e instituições advindas da razão humana.
Essa postura coloca o pensamento conservador em conflito com ideologias essencialmente reformistas, que almejam criar uma sociedade “perfeita” pelo uso da política. Para o conservador, a política é a “arte do possível” e não um meio para se chegar a uma sociedade utópica. Um Conservador sempre irá buscar uma estabilização política através das características de sua sociedade, mas, via de regra, o Conservador ocidental é um indivíduo que defende a Monarquia (Principalmente pela existência do Poder Moderador, algo que se baseia muito nas tradições de um povo) e os valores da Tradição Cristã
No campo da Economia, o conservadorismo defende o individualismo. A defesa da propriedade privada também é vista como uma questão intimamente ligada à liberdade, pois não é possível ser livre se os meios de sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de outros, dos quais acaba se tornando dependente, principalmente se esses "outros" em questão sejam o Estado e seus "braços" de controle.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre mercado não é assunto de consenso entre os conservadores de vários países do mundo, inclusive aqui no Brasil. Mesmo os conservadores que defendem a globalização e a abertura dos mercados ao capital internacional buscam adequar essa integração somente no âmbito econômico e financeiro, protegendo a cultura e a identidade nacionais de influências externas. (conseguem entender agora o que foi o BREXIT do ano passado?)
Mas, como o conservadorismo costuma ter fortes traços de nacionalismo, as ideias econômicas acabam sendo influenciadas, portanto, boa parte dos conservadores nacionais são adeptos de políticas econômicas desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas. Mesmo assim, esse fato não impede que políticos conservadores sejam até hoje chamados de “neoliberais” na América Latina, o que não é uma designação correta na maioria dos casos, visto que muitos conservadores advogam políticas intervencionistas no âmbito econômico.

Essa “confusão” é provocada, principalmente, pela esquerda que conseguiu criar “rótulos políticos” para denegrir seus adversários. Um conservador, mesmo os que defendem o livre mercado, jamais podem ser taxados de neoliberais, pois conforme escrevi aqui anteriormente, não existe essa história de “Liberal-Conservador”.

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