quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Devaneios sobre a Verdade


Rezam as antigas lendas que a "verdade" foi enviada por Deus ao mundo em forma de um gigantesco espelho. E quando o espelho estava chegando sobre a Terra quebrou-se, partiu-se em inumeráveis pedaços que se espalharam por todos os lados. 

E qual foi o resultado disso? As pessoas sabiam que a verdade era o espelho, mas não sabiam que ele havia se partido. E por essa razão, as que encontravam um dos pedaços acreditavam que tinham nas mãos a verdade absoluta, quando, na realidade, possuíam apenas uma pequena parcela desta dádiva divina.

E quem será o conhecedor da verdade absoluta? 

A verdade absoluta só Deus a possui e aos poucos vai revelando ao homem na medida em que este esteja apto para conhecê-la. 

É através destes pequenos fragmentos que são revelados por Deus, que os inventores, os cientistas, os pesquisadores, vão descobrindo a cada século novas verdades que se acumulam e fomentam o progresso da Humanidade. É como se fossem juntando os pedaços do grande espelho e conseguissem abranger uma parte maior. 

Assim, a verdade é conquistada graças aos esforços dos homens e não numa revelação bombástica sem proveito para quem a recebe. Não é de uma hora para a outra que você passa a conhecer a verdade, muito menos, que passa a pratica-la. Isso é uma conquista diária, um aprimoramento humano constante, com direito à alguns percalços no caminho.

Ademais, depois que a verdade é descoberta, ninguém pode encarcerá-la, nem guardá-la só para si. A verdade é uma "parceira" da generosidade e da honestidade e está longe de ser algo "fora de moda", ultrapassado. Pelo contrário, cada vez mais a sociedade humana busca juntar os cacos do espelho. Quem experimenta o sabor da verdade não mais permanece o mesmo. Toda uma evolução nele se opera e uma transformação radical e libertadora. Se torna um processo inevitável.

Por vezes, a nossa cegueira não nos deixa vê-la, mas ela está em toda parte, latente, dentro e fora do mundo e é, muitas vezes, confundida com a ilusão. Em seus diálogos sobre "A Verdade", Santo Anselmo nos relata que a "Verdade" é a retidão do objeto percebida pela mente, mas o que vem a ser essa "Retidão"? É algo ser o que é, Deus é a máxima expressão da retidão, a verdade suprema e eterna, é o que é infinitamente e que determina o que tudo deve ser. 

Para Anselmo, a "Verdade" não está somente na conformação dos nossos juízos à realidade (uma verdade de conhecimento), mas em todo o nosso ser, como disse Santo Agostinho, tendo sua expressão na vontade, nas ações, nos sentidos, na essência de todas as coisas. Um sujeito justo deseja o que é certo, sabendo que é certo, porque é certo!

Desde os tempos de Maquiavel, vem se buscando "praticar" a verdade. Marx buscou fazer isso, ditar uma "regra"! de prática de verdade. Não gostaria de ser tentando a cair neste erro. Prefiro entender que é possível praticar alguns "exercícios" espirituais (orar, jejuar, dar esmolas, coisas assim), lembrando que não devemos entender isso como prática da verdade, e sim como inspirações, pois, repito, por melhor que sejam essas ações, elas não são a prática da verdade e corrermos um sério risco de isso se transformar em convenções sociais e perderem o seu real sentindo. 

Um exemplo disso: Muita gente tem preconceito (de raça, credo, sexo, etc), mas não se expressa pelo fato de temer a pressão da sociedade, do que os outros vão falar sobre isso. Não que ter preconceito seja algo saudável, longe disso, não se deve ter preconceito sobre assunto nenhum. É o que a bíblia chama de "o mundo".

Quero citar um pensador contemporâneo muito importante chamado Marco Campos (que muito honra o fato de ser meu irmão), que foi fundamental para a existência deste texto, segundo ele, "Praticar a verdade é algo que se faz individualmente". É algo que deve ser internalizado pelo individuo e norteie suas ações, buscando cada vez mais contemplar a beleza, a verdade e a vida.

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