segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Educação Multifocal

Semana passada, eu escrevi sobre a questão da educação como uma doutrina de falência do processo de pensar.Muito em função do processo de educação brasileira ser predominantemente baseada na pedagogia doutrinária de Paulo Freire, que tem sido uma grande “arma” utilizada pela esquerda brasileira como parte importante do processo de hegemonia cultural e educacional nos últimos 40 anos. Pois bem, esse texto gerou uma série de opiniões (favoráveis ou não) sobre a precariedade da educação no País, mas vale mencionar que a educação no mundo todo está num processo de falência gravíssimo.

Como parte da categoria, eu acredito que os professores são os profissionais mais importantes da sociedade, mais importantes do que psiquiatras, juízes de Direito, políticos ou generais. Porque os professores trabalham o solo da inteligência para que as crianças e os adolescentes não sejam tratados por psiquiatras, não cometam crimes e sejam julgados por juízes; que aprendam a escolher melhor os seus representantes e que usem a ferramenta do diálogo e não façam guerra e sejam comandados por generais. Se assim fosse  teríamos mais poetas da vida e não repetidores de informação, jovens sem capacidade crítica de pensar. Mas, se por um lado os professores são os profissionais mais importantes da sociedade, por outro lado a educação está falida porque enfileira os alunos em salas de aula, o que é ótimo para formar soldados para uma guerra, mas péssimo para formar pensadores porque registra o sistema de hierarquia que bloqueia o pensamento, dificulta a expressão das ideias, o debate das opiniões e, consequentemente, gera conflitos como timidez, insegurança e bloqueio da criatividade. 

A educação está falida também porque o sistema educacional nos impõe, como bem diz o psiquiatra Augusto Cury, um sistema de ensino “fast food”, que significa um conhecimento pronto, sem ensinar o básico para a formação do pensar, que é o ato de duvidar, o desafio das perguntas. Não se questiona as informações e os conhecimentos que são abordados em sala de aula. Não se prepara o aluno para utilizar a sua capacidade de pensar para chegar ao mesmo ponto através das mais diversas possibilidades e não apenas que a “verdade” oficial, aquela que é imposta pelo “autoritarismo” da pedagogia contemporânea e seus ideólogos que prezam uma educação “igualitária”, pasteurizada e onde os alunos são privados de um bem preciosíssimo que é a liberdade de pensar por conta própria. Isso tem feito com que os professores, alunos e demais atores do processo educacional estejam estressados, sofrendo daquilo que na Teoria Multifocal chama de “SPA” (Síndrome do Pensamento Acelerado), que consiste em pensar de forma desordenada, sem foco e onde o cansaço se torna visível e tira qualquer estimulo saudável para essas personagens do cenário da educação.

O último lugar que essas pessoas querem estar é a sala de aula, eles são bombardeados por estímulos não saudáveis, como o consumismo, o coitadismo, a dependência de ferramentas digitais e uma ansiedade que nunca se viu na história humana. É necessário que os professores passem por um processo grande de reciclagem nos métodos de ensino aprendizagem, saiam do lugar comum das teorias que já demonstraram ser inadequadas ou ineficazes e busquem novas alternativas, aprendam a criar, construir novas metodologias e práticas pedagógicas. O professor não pode enxergar as ferramentas digitais como “inimigas” do processo de ensino e sim utiliza-las como ferramentas aliadas em suas aulas. Sempre me questionei: Por que os alunos ainda ficam sentados enfileirados como se estivessem em um quartel? Por que não se utiliza a música como aliada na aprendizagem? (não somente como uma disciplina transversal, mas como ferramenta para o fortalecimento do lado cognitivo do aluno), coisas que sei que muitos colegas estão buscando trabalhar, mas que encontram resistências daqueles que ainda entendem que educação é algo elitizado e quando muito, uma benesse do estado.

Ainda não trabalhamos no Brasil, agora voltando para a terrinha, a educação emocional nas nossas escolas da forma como deveríamos trabalhar (nada dessa coisa de “ética”, “valores”, boas maneiras, etc, tudo isso deve ser uma consequência natural do relacionamento saudável), Vejo muitos colegas educadores com resistências em trabalhar o lado emocional de professores, alunos e famílias pois alegam que isso não tem sustentação acadêmica, que é coisa de manual de “auto ajuda”. Ora, a educação passa por um processo de “doença emocional” muito grave, professores estão em seu limite, com um excesso de cobranças, de metas absurdas a serem cumpridas, os alunos estão cada vez mais desinteressados em aprender na escola, preferem as informações que estão disponíveis no mundo virtual. Vamos parar com esse sectarismo da educação brasileira, Paulo Freire está longe de ser Deus, aliás, sua teoria está longe de ser eficaz, é necessário que se rompa com essa visão unifocal da educação, precisamos nos despir de dogmas e preconceitos e partir para enxergar a educação de uma maneira multifocal, de seus diversos ângulos e vertentes.

Eu faço a minha parte, escrevo, trabalho e defendo a visão multifocal em diversas atividades e principalmente na educação, tem alguns anos que me “libertei” da “monogamia do oprimido” e enxergo a educação de uma forma bem mais ampla, bem mais complexa também, mas sempre como uma válvula de libertação do pensar e do agir, sem essa liberdade de pensamento fica impossível se trabalhar uma educação de qualidade.

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