quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Minha coluna na Gazeta 24 Horas


Debate: O que debater?

Na semana passada tivemos a primeira rodada de debates com os candidatos a prefeito de vinte cidades brasileiras, dentre elas a da capital de nosso estado. O motivo de conversarmos sobre esse tema aqui em nossa coluna é em virtude da forma como devemos interpretar esse espaço que é proporcionado pela imprensa brasileira e que deveria ser melhor aproveitado se não fosse pela insistência de um “engessamento” promovido pelas chamadas “regras do debate”, onde cada assessoria, em conjunto com a emissora e com o TRE, determinam qual o formato que o referido debate deverá ter.
Mas vamos discorrersobre o que significa um “debate”. De acordo com os dicionários atuais, a palavra debate significa: “Discutir, contestar, polemizar: debater uma questão”. Se o significado de debate é a discussão, a contestação e a polêmica, por que então não se consegue ver essas coisas acontecendo nos chamados debates eleitorais contemporâneos? Sou de uma geração em que ansiavapor debates políticos, nasci em plena ditadura militar, um período de exceção, onde os debates eram terminantemente proibidos e estávamos a mercê das decisões tomadas em quarteladas autoritárias. Com o retorno da democracia eletiva no País, nossa geração passou a questionar todos os pretensos candidatos e ficávamos atentos aos debates que eram promovidos seja por universidades ou redes de televisão.
Mas com a profissionalização cada vez maior das campanhas eleitorais (já conversamos sobre isso em colunas anteriores), os debates passaram a ser de responsabilidades de profissionais ligados a postura e a imagem do candidato, aqueles assessores que cuidavam do conteúdo foram colocados em segundo plano em detrimento de uma boa equipe de marqueteiros e advogados que se esmeram para que o candidato apareça da melhor maneira possível na frente da TV..
Mas e o conteúdo? E as possibilidades do contraditório? Onde fica de fato o “debate”, em um debate eleitoral? As ideias e as posições dos candidatos não são frutos de um programa de governo ou de uma série de propostas que foram debatidas com a população. Essas ideias são oriundas de pesquisas de opinião realizadas por agências que cuidam da campanha do candidato e que o preparam mais para o “como dizer” do que para o “que dizer”. Ficamos nós, meros eleitores, assistindo a uma série de técnicas que são utilizadas ou não pelos candidatos, e que nem sempre nos permitem avaliar o conteúdo de suas propostas. Vários candidatos que não possuem propostas consistentes podem “ganhar” um debate aos olhos dos analistas, pela forma com que se postou em frente às câmeras de televisão.
Tenho muitos amigos que são profissionais e da melhor qualidade que cuidam da imagem de um candidato e peço escusas a eles por colocar esses aspectos em discussão neste espaço, mas não posso deixar de falar sobre essa nova formar de persuadir o eleitor. Não sou contrário ao preparo de imagem de um candidato, creio ser importante que o candidato tenha um visual confiável e tecnicamente adequado para aparecer na televisão, mas não posso concordar que essa imagem seja mais importante do que o conteúdo que esse candidato tenha. Não sou ingênuo para não acreditar que a imagem não influencia na hora do voto, mas será que essa influência é positiva para o crescimento da democracia ou para a melhoria das condições de vida de uma sociedade? Essa dúvida (para mim uma terrível certeza) faz com que cada vez mais eu tenha a certeza de que a população precisa saber mais ouvir do que ver o candidato. Aprender a diferenciá-lo pelo que “ele diz e pensa” e não pelo como ele “diz que pensa”.
Não existem vencedores em debates. Cada aliado acredita que seu candidato foi o melhor, pois ai vai falar o emocional e não a razão. Na verdade, penso que só existe de fato um perdedor, que é o cidadão, que acaba privado de conhecer o conteúdo dos candidatos pois o que conta para os profissionais de eleição, é a imagem que esse candidato vai passar para o público. Uma pena, pois a máxima romana de que: “A mulher de Cesar não precisa ser honesta e sim parecer honesta” é praticado como uma estratégia de engodo ao eleitor.
Sou um otimista, já falei isso aqui, portanto, acredito que a sociedade vai evoluir e exigir que os candidatos tenham mais conteúdo, mais propostas, mais afirmações estratégicas de como conduzir uma cidade e os destinos de sua população. Oxalá isso não demore a acontecer e seja eu brindado em poder assistir a isso.

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